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sexta-feira, janeiro 28, 2005

scorsese 

The Aviator de Martin Scorsese venceu em importantes categorias dos Globos de Ouro e perfila-se, com onze nomeações, como o mais forte candidato aos Óscares. É a hora consagração do grande cineasta americano, muito respeitado mas a quem falta a dourada estatueta calva. Aproveito a ocasião para escrever sobre a faceta mais apetitosa do cinema de Scorsese: a comédia da psicopatia. Para tal pego no filme emblemático da filmografia do nova-iorquino: Taxi Driver. Poderá parecer paradoxal que considere esta obra como uma comédia. Quem a conhece saberá que é extremamente violenta, gráfica e psicologicamente. Mas não é raro ver espectadores rir a bom rir quando é projectada. Principalmente nos momentos mais desesperados ou aterradores.

Se Travis Bickle é um homem perturbado por fantasmas de vária ordem, Scorsese diverte-se com as suas atribulações, a sua depressão, a rejeição amorosa. Filma o dia-a-dia de um ser em perda como de screwball comedy se tratasse. Os gags: o discurso desconexo do taxista, a saída ao cinema pornográfico, as chamadas não atendidas, as insónias, os postais aos pais, o Organizized, o atentado ao candidato a presidente, as visitas intempestivas à sede de campanha (com números de kung-fu à mistura). Tudo o que leva ao final banhado a sangue. De ressalvar ainda: a cara inexpressiva de Robert De Niro (qual Buster Keaton), a presença do realizador como marido encornado no diálogo mais divertido do filme, a personagem de Harvey Keitel, os outros taxistas. São gargalhadas garantidas, enquanto se assiste à tragédia plausível de um simplório que se transforma em herói pelas piores razões.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

palácio 

O mar pintado a azul num azulejo setecentista. Uma caravela, os navegadores como só nos livros de História: heróicos, bravos, sem receios, honrados. Que importa que não fossem assim. A laranjeira com frutos na pacatez do pátio. Um antigo palácio. Que tragédias, que comédias ao longo dos anos. Tantos sonhos e desgraças, ou porventura vidas meramente planas. Passados enterrados em sepulturas onde há muito se deixou de pôr flores. O repouso, o ar limpo, a leveza das horas. Se este fosse o chão que piso todos os dias, que enfados, que tédios. O peso do quotidiano maçador. Somente a mim, que não fui filho d’algo noutros tempos e aqui venho raramente, me parece este palácio feliz.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

casa 

Varrer o fantasma para dentro de um quarto escuro. Fechá-lo bem à chave. Enfiar logo de seguida a chave numa sanita. Puxar o autoclismo. Sair da casa, trancadas todas as portas e janelas. Nunca mais lá voltar, até que apodreça e caia.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

noite 

Quem nunca viu tem menos tormentos do que quem perdeu a visão. A escuridão serve bem os contos de fadas. Não é por acaso que se lêem às crianças quando elas se vão deitar. Mas aqueles que perdem a possibilidade de escolher entre luz e noite devem sentir-se como numa prisão onde foram colocados sem culpa. Tribunal algum os libertará.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

lego 



Piet Mondrian. Broadway Boogie Woogie. 1942-43

terça-feira, janeiro 18, 2005

alvor 

"It was me, waiting for me,
Hoping for something more,
Me, seeing me this time,
Hoping for something else"
New Dawn Fades, Joy Division

domingo, janeiro 16, 2005

luz 

«Mehr Licht!» - foram estas as últimas palavras que se ouviram a Goethe. Face à maior escuridão de todas, um homem de vida cheia, um dos grandes, reduz-se ao nosso tamanho. A pequenez de quem nada pode contra a morte. Enquanto não chega a nossa hora (esperemos que demore muito), vamos pedindo por mais luz. Para que nos alumie o caminho.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

barbra 

Mantenho, desde há muito, um profundo e continuado ódio por essa criatura detestável a quem chamam Barbra Streisand. Ela faz mesmo parte, num dos lugares cimeiros, da minha lista pessoal de mortes desejáveis para o bem da humanidade. Triste foi o dia em que a ela se juntou, em dueto, Céline Dion (um dos piores crimes cometidos sobre o Homem). Abençoado o da sua retirada. Mas, visto que não tenho podido alimentar este saudável sentimento, venho recordar um momento (e reparem que digo só um momento) em que esta cantora/actriz foi suportável - o seu papel no filme What's Up, Doc? de Peter Bogdanovich. A explicação pode ser a magia do cinema, o talento do realizador, não sei, o que sei é que a dita cuja até parece adorável. O filme é bom (uma cópia descarada de Bringing Up Baby, mas bom), o que ainda assim é pouco para entender o fenómeno. Não procuremos mais razões, assinalemos tão-só o facto. Há coisas que não são para perceber.

Não quero, contudo, falar apenas de coisas más neste afável início de ano. A alegria inundou-me quando vi, numa prateleira da FNAC, o DVD do filme The Royal Tenembaums, do mui promissor Wes Anderson (de quem se vai esperando nova pérola). Era um objecto muito desejado e nunca o havia encontrado em terras lusas (ou outras). Para maior contentamento, o preço era assaz convidativo, abaixo dos onze euros. Logo o comprei e o trouxe para casa.

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