quarta-feira, janeiro 23, 2008
o eddie murphy era um filho da puta de um génio
Em sete partes.
Delirious. Eddie Murphy em 1983.
Delirious. Eddie Murphy em 1983.
baltimore
A cidade americana exerce um fascínio sobre mim. Seja Detroit - Motor City ou Mo'Town - da General Motors, dos Stooges, do Eugenides, seja Chicago - a Windy City -, dos gangsters, do Bellow, dos Wilco, seja São Francisco - San Fran -, dos eléctricos, do Vertigo, do Bullit, seja Nova Iorque, que é de tudo e de toda a gente, são cidades que nunca conheci, a não ser através dos filmes ou das séries, das fotografias ou das canções ou dos livros. A juntar a estas, Baltimore.
Quando era mais novo, lembro-me que nas tardes das férias passava sempre, a seguir ao almoço, uma série na televisão, fosse no canal 1, primeiro, ou no canal 2, depois. Nessa altura, há uns doze, treze anos atrás, não havia o culto actual pelas séries, e muitas e boas passavam despercebidas. O Quantum Leap, por exemplo, com o grande Dean Stockwell, que eu adorava, da qual só pessoas da minha idade - tirando ou pondo um ou dois anos - é que se lembram. Ou o Homicide: Life on the Street. Uma série de polícias, de detectives do departamento de homicídios (assim se chamava a série em português: Departamento de Homicídios) da cidade de Baltimore. Era pessimista, nem todos os casos se resolviam num episódio - às vezes nem se resolviam de todo -, todos os detectives tinham vidas de merda, alguns suicidavam-se, outros eram baleados no cumprimento do dever, todos tinham defeitos, não se davam assim tão bem uns com outros, passavam o tempo a falar de coisas sem interesse nenhum, teorias da conspiração sobre o assassinato de Lincoln - nem era do Kennedy, reparem quão rebuscado - pelo meio, tinham um chefe preto que era meio-italiano e se chamava Giardello, que andava sempre a levar na cabeça dos superiores. Depois, havia o outro lado, a maioria negra da população - como os centros das cidades americanas foram passando a ser dominado pelos negros, ao inverso do que acontece nas cidades europeias, é uma história interessante, contada por exemplo no Middlesex do Jeffrey Eugenides, nesse caso sobre Detroit -, que normalmente eram os suspeitos e as vítimas dos crimes e não gostavam particularmente da polícia. O Homicide tinha também uma das melhores personagens de todos os tempos, Frank Pembleton, interpretada por um dos melhores actores do mundo, Andre Braugher, que ainda entrou num filme do Spike Lee - por falar nele, ainda ontem vi o Do the Right Thing, que é um filme estupidamente bom - e depois desapareceu em papéis menores.
Depois de ter revisto a primeira e segunda temporada do Homicide, que comprei em DVD, ainda mais vontade tenho de ver o The Wire, série criada pelo David Simon, o autor do livro que deu origem ao Homicide, que é da HBO e que por isso não tem os constragimentos em termos de linguagem e de situações e de audiências como tinha o Homicide que passava na NBC. Também tem lugar em Baltimore, tem o mesmo ambiente, só que é dado mais enfânse ao lado de lá da lei. Diz quem sabe disto que é tão boa ou melhor que os Sopranos.
Para finalizar, é de referir que os Animal Collective e o Tom Breihan também vêm de Baltimore, cidade de rio, de lixo, de pobreza e de uma das minhas séries preferidas.
Quando era mais novo, lembro-me que nas tardes das férias passava sempre, a seguir ao almoço, uma série na televisão, fosse no canal 1, primeiro, ou no canal 2, depois. Nessa altura, há uns doze, treze anos atrás, não havia o culto actual pelas séries, e muitas e boas passavam despercebidas. O Quantum Leap, por exemplo, com o grande Dean Stockwell, que eu adorava, da qual só pessoas da minha idade - tirando ou pondo um ou dois anos - é que se lembram. Ou o Homicide: Life on the Street. Uma série de polícias, de detectives do departamento de homicídios (assim se chamava a série em português: Departamento de Homicídios) da cidade de Baltimore. Era pessimista, nem todos os casos se resolviam num episódio - às vezes nem se resolviam de todo -, todos os detectives tinham vidas de merda, alguns suicidavam-se, outros eram baleados no cumprimento do dever, todos tinham defeitos, não se davam assim tão bem uns com outros, passavam o tempo a falar de coisas sem interesse nenhum, teorias da conspiração sobre o assassinato de Lincoln - nem era do Kennedy, reparem quão rebuscado - pelo meio, tinham um chefe preto que era meio-italiano e se chamava Giardello, que andava sempre a levar na cabeça dos superiores. Depois, havia o outro lado, a maioria negra da população - como os centros das cidades americanas foram passando a ser dominado pelos negros, ao inverso do que acontece nas cidades europeias, é uma história interessante, contada por exemplo no Middlesex do Jeffrey Eugenides, nesse caso sobre Detroit -, que normalmente eram os suspeitos e as vítimas dos crimes e não gostavam particularmente da polícia. O Homicide tinha também uma das melhores personagens de todos os tempos, Frank Pembleton, interpretada por um dos melhores actores do mundo, Andre Braugher, que ainda entrou num filme do Spike Lee - por falar nele, ainda ontem vi o Do the Right Thing, que é um filme estupidamente bom - e depois desapareceu em papéis menores.
Depois de ter revisto a primeira e segunda temporada do Homicide, que comprei em DVD, ainda mais vontade tenho de ver o The Wire, série criada pelo David Simon, o autor do livro que deu origem ao Homicide, que é da HBO e que por isso não tem os constragimentos em termos de linguagem e de situações e de audiências como tinha o Homicide que passava na NBC. Também tem lugar em Baltimore, tem o mesmo ambiente, só que é dado mais enfânse ao lado de lá da lei. Diz quem sabe disto que é tão boa ou melhor que os Sopranos.
Para finalizar, é de referir que os Animal Collective e o Tom Breihan também vêm de Baltimore, cidade de rio, de lixo, de pobreza e de uma das minhas séries preferidas.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
os melhores de '07
Falar dos melhores álbuns do ano, ainda por cima com três semanas de atraso, é uma actividade meio onanista, sem grande proveito para quem que seja, mas um gajo pensa: se ao menos uma pessoa levar daqui qualquer coisa, já é bom, isto já teve alguma importância. Assim, e pensando nessa pessoa, que existirá ou não, cá vai:
Fiz, no final do primeiro trimestre do ano passado, uma espécie de lista com a música saída nesse período da qual tinha mais gostado, que incluia o Person Pitch do Panda Bear, Cryptograms dos Deerhunter e Dressed Up for the Letdown do Richard Swift. Se fizesse um top 5 de discos do ano, estes estariam lá de certeza. A acompanhá-los o Kala da M.I.A., talvez o mais importante, que não o melhor, álbum do ano. Depois, não sei bem, Night Falls Over Kortedala do Jens Lekman ou Liars dos Liars? Ficava com álbum dos Liars, o meu favorito da segunda metade do ano. E deixaria de fora preciosidades como Strawberry Jam dos Animal Collective, Untrue do Burial, Sound of Silver dos L.C.D. Soundsystem, Myth Takes dos !!!, e, ainda, o muito ouvido Sky Blue Sky dos Wilco. Já para não falar do belo techno minimal de From Here We Go Sublime de The Field e de Chromophobia do Gui Boratto. E dos Klaxons, banda da qual inexplicavelmente espero muito, dos Battles, dos Blonde Redhead, dos Spoon. E do Benjamin Biolay, e o seu Trash YéYé, que comecei a ouvir há pouco tempo e vou gostando cada vez mais. Aliás, gosto cada vez mais da cena francesa, Vincent Delerm e banda-sonora do Chansons d'Amour à cabeça. Peter von Poehl, que não é francês, mas é "primo" destes gajos, também rodou bastante, embora seja, como Delerm, de final de 2006.
Para fazer uma lista definitiva de 2007 seria preciso esperar uns anos. Eu ainda estou a ouvir álbuns de 2005 e 2006, e outros mais antigos, que me passaram ao lado. E 2008 já começou.
Fiz, no final do primeiro trimestre do ano passado, uma espécie de lista com a música saída nesse período da qual tinha mais gostado, que incluia o Person Pitch do Panda Bear, Cryptograms dos Deerhunter e Dressed Up for the Letdown do Richard Swift. Se fizesse um top 5 de discos do ano, estes estariam lá de certeza. A acompanhá-los o Kala da M.I.A., talvez o mais importante, que não o melhor, álbum do ano. Depois, não sei bem, Night Falls Over Kortedala do Jens Lekman ou Liars dos Liars? Ficava com álbum dos Liars, o meu favorito da segunda metade do ano. E deixaria de fora preciosidades como Strawberry Jam dos Animal Collective, Untrue do Burial, Sound of Silver dos L.C.D. Soundsystem, Myth Takes dos !!!, e, ainda, o muito ouvido Sky Blue Sky dos Wilco. Já para não falar do belo techno minimal de From Here We Go Sublime de The Field e de Chromophobia do Gui Boratto. E dos Klaxons, banda da qual inexplicavelmente espero muito, dos Battles, dos Blonde Redhead, dos Spoon. E do Benjamin Biolay, e o seu Trash YéYé, que comecei a ouvir há pouco tempo e vou gostando cada vez mais. Aliás, gosto cada vez mais da cena francesa, Vincent Delerm e banda-sonora do Chansons d'Amour à cabeça. Peter von Poehl, que não é francês, mas é "primo" destes gajos, também rodou bastante, embora seja, como Delerm, de final de 2006.
Para fazer uma lista definitiva de 2007 seria preciso esperar uns anos. Eu ainda estou a ouvir álbuns de 2005 e 2006, e outros mais antigos, que me passaram ao lado. E 2008 já começou.
terça-feira, janeiro 15, 2008
cassette
A cassette aúdio (gosto de escrever cassette assim, com dois tês, à francesa, cassete, com um só tê, não é a mesma coisa) sempre pareceu uma tecnologia temporária, de não muita qualidade. O som deteriorava-se com as repetidas audições, o que resultava na efemeridade do objecto, que se tornava perfeitamente descartável após algum tempo. Gravavam-se os álbuns que nos emprestavam, às vezes, como a menor perícia do gravador (pessoa), havia canções inacabadas ou que passavam de um lado para o outro, ou faziam-se mixtapes, depois de se ler o livro do Nick Hornby. Ouviam-se essas cassettes até ao ponto de esgotamento, em que ao desbotamento dos sons originais podia-se ajuntar a má qualidade de uns headphones baratos. Porém, e em tudo na vida há um porém, esses tempos deixam saudades, mais agora que também o cd tende a desaparecer e não andará longe o tempo em que sentiremos nostalgia por ele. Duas cassettes diferentes com as mesmas canções nunca seriam iguais, isto escrito assim pode parecer parvo, e é, duas cassettes diferentes são obviamente diferentes, mas dois cds diferentes com música igual são muito mais iguais. A cassette e a insuficiência tecnológica a que estava ligada tinham um charme especial, por razão da tal deterioração ou desbotamento dos sons, cada uma era única e especial, não haveria no mundo outra que soasse ao mesmo, até quando era igual o original. Era a nossa cassette. Por vezes, carregavámos também no record ao invés de só no play e gravávamos sem querer algo por cima, qual palimpsesto de baixa cultura, e isso só contribuía para a singularidade de cada objecto-cassette. Isso perdeu-se, como muitas cassettes que deixámos por aí.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
maxwell
Um dos álbuns da minha vida é o Embrya do Maxwell. O seguinte Now também é muito bom, embora não cause os mesmos arrepios. Já lá vão é uns seis anos que saiu, e, desde aí, nada. Nos últimos anos, a neo-soul perdeu o impacto, o que pode explicar o facto. Por exemplo, o D'Angelo, uma das melhores vozes do mundo - como se pode ouvir na canção "So Far to Go" com o Common - e que aparecia nu e musculado na capa do Voodoo, diz que engordou, e também anda desaparecido. Lembrei-me disto e fui procurar à Wikipedia (que me ajuda muito nestas coisas). Não encontrei explicação para o hiato, fiquei foi a saber que 2008 será o ano do regresso em disco tanto de Maxwell, que entretanto cortou a afro-juba pela qual era identificado, como de D'Angelo. Não vão mudar a música, nem revolucionar coisa nenhuma, mas para suportar dores de corno e outras que tais não haverá melhor remédio. É garantido.
quinta-feira, janeiro 10, 2008
imitação da vida
Telefones cor-de-rosa, espelhos, tantos espelhos, e jóias tão brilhantes. O cinema como imitação da vida, excessiva, esdrúxula, patética. Ou a vida como imitação da vida. Representamos os nossos papéis mais ou menos bem, às vezes exageramos no over-acting, mas faz tudo parte da encenação. Ninguém escapa. Douglas Sirk sabia-o bem.