terça-feira, outubro 31, 2006
melodias de fazer dançar os ursos
Vozes diluídas em massas e massas de electricidade pura. Uma onda de luz difusa a fazer de redoma. E os ursos desenhados na floresta imóvel brincam e dançam, ainda mal despertos do sonho.
(Este post vem a propósito do shoegaze e de uma frase lida na Madame Bovary. Isn't Anything.)
(Este post vem a propósito do shoegaze e de uma frase lida na Madame Bovary. Isn't Anything.)
quarta-feira, outubro 25, 2006
smoke
Começar a fumar. Posso culpar os filmes por começar a fumar (e um amigo meu, a quem cravei os primeiros cigarros). Na madrugada de ontem, estava a dar na televisão, num horrível pan & scan, um deles. Apropriadamente intitulado Smoke, gira à volta de uma tabacaria nova-iorquina gerida por Harvey Keitel. Apesar de simpático, eu gostava bem mais do seu filme-irmão, dos mesmos realizadores, Paul Auster e Wayne Wang, e passado no mesmo cenário: Blue in the Face (cá chamou-se Fumo Azul). Não tinha grande narrativa, era mais um conjunto de sketches protagonizados por figuras conhecidas, entre outras pequenas estórias. Já não o vejo há uns dez anos, mas lembro-me ainda de Lou Reed a dizer que fumava para não beber tanto, ou de Jim Jarmusch a acariciar o seu último cigarro, pois estava resolvido a deixar o vício. Era extremamente cool. Digam o que disserem, ver alguém a fumar no grande ecrã é extremanente cool. Vê-se cada vez menos e algum do charme do cinema se perde com isso, como, ao sair da sala, aquela vontade de se expelir fumo pela boca ou de agarrar o cigarro de uma certa maneira, quando ainda nem sequer se tocou num.
domingo, outubro 22, 2006
i want candy
Magnífico. Deslumbrante.
Pouco depois de chegar à corte e de se casar com Luís XVI, que demora a consumar o matrimónio, alguém diz que Maria Antonieta parece uma fatia de bolo. Assim é. Kirsten Dunst parece uma fatia de bolo deliciosa, e o filme também.
segunda-feira, outubro 16, 2006
julie christie, the rumors are true
Tom Courtenay. Yo La Tengo.
Se esta não é uma das melhores canções de todo o sempre, anda lá perto. Ouvem-se os primeiros pa-pa-pas e não restam dúvidas. O vídeo insere-se na mesma onda do que fizeram para Sugarcube, outra bela canção. Anseia-se por Dezembro, quando, espera-se, as desfrutaremos ao vivo.
terça-feira, outubro 10, 2006
antonioni
Aguentar estar mal sentado durante duas horas a ver um filme frio, distante e quase sem enredo não é fácil. Não fosse a beleza formal do dito seria insuportável. Saí da Cinemateca, aonde fui ver Il Deserto Rosso de Michelangelo Antonioni, com o rabo dorido e algo aliviado por aquilo ter finalmente acabado. E com uma urgente necessidade de fumar também, duas horas sempre são duas horas. Cigarro acendido, cá fora, à espera das pessoas com quem tinha ido, vai-se-me tornando aparente o que antes era apenas uma impressão: esta é a película mais bem filmada que eu já vi. Os enquadramentos, os movimentos de câmara, a fotografia são de tal maneira perfeitos que sufocam tudo o resto. O enredo é menos a narrativa do que as imagens. As imagens bastam-se, como que obras-de-arte independentes ou quadros animados que devemos admirar por si só.
O prazer foi posterior ao acto de fruição, mas tão memorável que passados três ou quatros dias o efeito perdura. Juntemos a este deserto vermelho a longa tentativa de escape de Jack Nicholson em The Passenger (melhor filme, as mesmas qualidades) e teremos, daqui para a frente, de reservar lugar no coração para inscrever o nome de Antonioni.
O prazer foi posterior ao acto de fruição, mas tão memorável que passados três ou quatros dias o efeito perdura. Juntemos a este deserto vermelho a longa tentativa de escape de Jack Nicholson em The Passenger (melhor filme, as mesmas qualidades) e teremos, daqui para a frente, de reservar lugar no coração para inscrever o nome de Antonioni.
quarta-feira, outubro 04, 2006
o ruído como beleza
You Made Me Realise. My Bloody Valentine.
Never Understand. The Jesus And Mary Chain.
Providence. Sonic Youth.
terça-feira, outubro 03, 2006
film-clip/vertigem
No episódio d'Os Sopranos, o último da sexta temporada, Christopher Montisanti e Julianna Skiff - uma agente imobiliária que quase andou metida com o Tony Soprano -, ambos tóxico-dependentes em recuperação, entregam-se a um primeiro regrado e depois desenfreado consumo de heroína. Numa cena, sobrepõem-se imagens da preparação e consumação do vício com as de uma sala de cinema onde se encontram a assistir a um filme. Não vemos qual é. Mas aquela música não engana. Nela reconhecemos o vórtice onde James Stewart cai quando se julga culpado pela morte de Madeleine.