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segunda-feira, março 31, 2008

portishead #2 

Vou retractar-me (com o novo acordo ortográfico, agora teria de fazer um desenho da minha pessoa, e eu não tenho muito jeito para isso): os dois primeiros álbuns dos Portishead não são maus, eu é que enjoei deles (isto parece-me uma expressão brasileira, mas vai bem com a temática parentética anterior, e o português do Brasil não deixa de ser bonito), principalmente do Dummy. Quando digo que não passaram o exame do tempo, tem mais a ver com o meu gosto - aí já passaram há muito o prazo de validade - do que com qualquer julgamento objectivo da sua validade estética.

sábado, março 29, 2008

o vento 

Ao princípio, pensava que era o vento do Fellini, um vento irreal, fantástico, que se ouvia em todos os seus filmes, todos os que eu conheço, mas não, ele ouve-se em todo o cinema italiano, no mais antigo e creio que mesmo no mais recente, e em mais lado nenhum.

sexta-feira, março 28, 2008

machine gun 



For I am guilty for the voice that I obey

portishead 

Para terminar com o assunto Portishead aqui no blog, falo do concerto de ontem no Coliseu de Lisboa. Arranjei o bilhete à última hora, porque quando soube do concerto não quis saber, não pensei sequer em ir. Não estava para ouvir aquelas canções todas que já me disseram muito e hoje só me provocam irritação e pouco mais. Só quando ouvi o novo álbum é que me arrependi, e muito. Mas tive razão nas duas ocasiões, quando me desinteressei e quando me arrependi. No concerto, as canções do último álbum foram estupendas, algumas aquém, outras além do que vai sair em disco, as outras, com as devidas excepções - as interpretações mais distantes dos originais -, deixaram-me indiferente, até na Roads, que já foi uma das minhas canções preferidas, dei por mim a olhar para o tecto (o tecto do Coliseu até é engraçado, ou não, e quem é que eram aqueles gajos no camarote presidencial?). O singalong histérico não ajuda, ter uma gaja a desafinar perto de mim também não, as letras, infantilóides, pioram a coisa. Third é um monumento, belíssimo, que aguentará a passagem do tempo, os dois primeiros álbuns não passaram esse teste. Se tiver de ouvir umas centenas de pessoas a cantar em uníssono (não é bem uníssono) a Glory Box outra vez, dou um tiro na cabeça. Aquela merda já deve estar numa compilação qualquer do estilo "Love in the 90's". Era matar aquela gente toda com uma Machine Gun.

quarta-feira, março 26, 2008

derrota 

John Ford falava da "glory in defeat", da glória dos derrotados da Guerra da Secessão, dos sulistas, para sempre vilões na história americana, Fernando Lopes diz no filme The Lovebirds - de que eu não esperava gostar tanto - que a derrota tem uma "sad beauty", comparando boxe e cinema, idas ao tapete e desastres da vida. Teixeira de Pascoaes, por seu lado, no Penitente, biografia romaceada de Camilo Castelo Branco, escreve sobre a sensualidade da desgraça. O que calha bem a propósito com uma conversa que tive há tempos com um amigo meu. O Homem é o único animal que se vira contra si próprio. Não no sentido de homicídios ou de massacres, mas do suicídio cometido ao longo do dia-a-dia, todos os dias, banal, de que uma pessoa retira um mórbido prazer e que Ruy Belo enunciava num poema seu.

sexta-feira, março 14, 2008

s-k again 

Mais um par de razões pelas quais se deve amar as Sleater-Kinney. Primeiro, o vídeo para uma canção do último álbum The Woods com a irresistível voz da Carrie Brownstein e com a Janet Weiss a entrar por uma janela com uma gaita presa ao pescoço. A seguir, uma gravação do princípio de um concerto no CBGB em 97. Reparem no nervosismo pré-actuação, enquanto ainda se ouve La La Love You dos Pixies no sistema de som, e como os primeiros gritos da Corin Tucker saem um pouco débeis.


Modern Girl. Sleater-Kinney.


Dig me Out. Sleater-Kinney.

domingo, março 09, 2008

o terceiro 

Eu lembro-me que adorava Portishead quando saiu o segundo álbum, aquilo era música nova, diferente de tudo o resto, bela, triste. Lembro-me também que odiava as pessoas que diziam "portixed", para mim eram filisteus do pior. Depois passou-me. Fui deixando de ouvir, até não ouvir mais, já não ouvia Portishead há uns bons cinco anos, e a impressão que me ficou, não sei porquê, era que aquilo tinha sido uma coisa do seu tempo, que já não me dizia nada, a voz da Beth Gibbons irritava-me, e os scratchs e aquela cena toda banda-sonora de anos 60 também. Quando pensava em trip-hop, parecia-me evidente a superioridade do Tricky, e, para além disso, eu já não gostava de trip-hop, mas onde é o que trip-hop já vai?, o trip-hop morreu há dez anos, isto já não é trip-hop.

Nunca, mas mesmo nunca, pensei que este álbum dos Portishead valesse alguma coisa, quanto mais aquilo que vale. Repito, é uma obra-prima, imperfeita, inacabada, abrupta. Espero sinceramente que o leak que saiu seja a versão final, porque eu gosto assim. Acordei a apetecer-me ouvir o álbum, para saber se era mesmo verdade, se aquilo existia. Existe.

sábado, março 08, 2008

sem título 

O novo álbum dos Portishead leakou. Pode ser só impressão minha, mas isto é uma obra-prima. Sem mais palavras.

uma correcção e umas quantas adendas 

Quando escrevi o post, intitulado Novas Viagens, sobre a hauntologia, cometi um erro, o conceito não foi criado nem por Simon Reynolds nem por Mark Fisher, mas sim por Jacques Derrida. Mais aqui.

Às semelhanças estéticas entre as Sleater-Kinney e os Velvet Underground (ténues, eu sei), compiladas no último post, junto mais uma: na canção The Size of Our Love ouve-se uma viola d'arco (será mesmo uma viola d'arco ou um violino?, não faço a mínima ideia, mas deixo assim) que se um gajo não souber até pode pensar que é o John Cale a tocar. Não é, é um tal de Seth Warren.

Comecei a pensar, será que o Lou Reed gosta das Sleater-Kinney, será que as conhece? O Lou Reed sempre teve a tendência de dizer muito mal e depois muito bem de um dado artista; o Bob Dylan passou de falhado, um gajo que sabia juntar umas palavras que não queriam dizer nada, mas que no fundo não valia nada, para alguém a quem ele se gostaria de equiparar, em apenas dez anos; a opinião sobre Iggy Pop teve percurso semelhante, era um mau imitador, mas afinal é um génio. Dos meus ídolos, pelo menos dois não devem ser lá grandes pessoas. O Lou Reed é um deles. A amizade com o John Cale, que também não deve ser o gajo mais fácil do mundo, prova-o de certa maneira, assim como a relação que tinha com o Andy Warhol, é ouvir o Songs for Drella, e com a Nico. Desde que anda com a Laurie Anderson está melhor, talvez, a ex- mulher é que era um bocado cabra, parece.

Confirma-se de que gosto de todos os filmes que têm os Velvet na banda-sonora. A I'm Sticking With You é uma grande canção, mas lá está eu sou parcial, gosto muito da voz da Maureen Tucker, ela devia ter cantado mais canções, afinal, a After Hours é uma das minhas canções preferidas, e fica muito bem no Juno.

terça-feira, março 04, 2008

s-k 

As coisas de que venho a gostar muito, ou a amar, são muitas vezes as coisas que a princípio me deixam indiferente. Nunca desgosto delas, mas não dou muito por elas, às vezes nem dou por elas. De repente, descubro-me encantado. Qual o caminho até lá não sei precisar, nem qual o momento exacto em que soube que era assim. Sei que foi aos poucos, que começou por um pormenor despercebido, mais por intuição do que por memória. Já tinha ouvido falar das Sleater-Kinney, já devia ter lido qualquer coisa, soube que participaram no ante-penúltimo álbum dos Go-Betweens, podia ter sido aí, não foi. Saquei o último álbum delas, nessa altura não se sabia que era último, eu não sabia que era diferente do seu som usual, ouvi umas duas vezes, pus de lado. Soube que iam acabar, li sobre isso, que era a melhor banda do mundo que acabava, da tristeza que deixava, podia ter sido aí, mas também não foi. Comprei um álbum em vinil das Sleater-Kinney quando estive em Amsterdão, ouvi um dos lados uma vez, odiei a voz de uma das vocalistas e deixei a audição por ali. Ouvi falar e li sobre elas mais algumas vezes, tenho a certeza, mas quando é que as comecei a ouvir a sério? Não foi há muito tempo. Uns meses apenas.

As Sleater-Kinney são a melhor banda do mundo. É uma afirmação precipitada, exagerada, já o escrevi a respeito de outras bandas, e fi-lo sinceramente, como o faço aqui. Godard dizia que diversos filmes eram o filme mais do belo do mundo. Ele tinha razão e eu também tenho. As Sleater-Kinney são a segunda vinda dos Velvet Undergound. Muito mais que a segunda vinda propriamente dita, que não é para aqui chamada. Achei extremamente apropriada a aproximação que Robert Christgau fez à maneira como a voz gritada e muito áspera da Corin Tucker se entrelaça com a dulcíssima voz da Carrie Brownstein com a canção The Murder Mister do terceiro álbum dos Velvet. Podia equiparar a Janet Weiss à Moe Tucker, mas não é verdade, em comum têm apenas o uso económico da bateria. Podia equiparar a voz da Carrie Brownstein à da Moe Tucker, e estaria mais próximo da verdade, a doçura da primeira é parecida com a inonência da segunda, que é quase perversão. Adoro a maneira de tocar guitarra da Carrie, muito simples, muito esparsa. Tenho uma paixoneta pela Carrie, que nem sequer é muito bonita. Não deve vir grande mal ao mundo ter uma paixoneta por uma lésbica, pior deve ter ficado a Corin, que, por causa disso, escreveu a belíssima One More Hour. E gosto da voz da Corin, e não é fácil gostar da voz da Corin, eu detestei-a das primeiras vezes. Suporto, e nem me importo muito, com algumas das letras delas, as demasiado infantis e planfetárias. É preciso não esquecer que elas vêm do movimento Riot Grrrl, portanto podia ser muito pior.

Para finalizar, fica o vídeo de uma das canções de que eu gosto muito do álbum de que eu gosto mais.


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